As responsabilidades do Dominador em uma D/s da vida real

Por Master Christian Sword of Gor

12 de Setembro de 2023

Ninguém nega a necessidade de Dominadores terem responsabilidade dentro de uma D/s na presença de todas as adversidades da vida real, entretanto essa responsabilidade parece ficar sempre no terreno abstrato sem que ninguém discuta com, alguma profundidade mínima, o que a responsabilidade dos Dominadores realmente significa.

Desta forma eu pretendo aqui fazer uma reflexão, sem nenhuma pretensão de esgotar o tema, colocando o meu ponto de vista sobre dez dos muitos níveis que se responsabilizar como Dono implicam.

1. Nível da transparência:

Muitas pessoas gostam de navegar entre as palavras ambíguas, entre as intenções incertas e na falta de comprometimento. Neste sentido a primeira e mais básica obrigação de um Dominador é ser claro com o que deseja, com o que não deseja, com até onde a relação pode ir, com quantas submissas têm ou pretende ter, com o espaço que cada submissa pode ou não ter na sua vida.

2. Nível sexual e fetichista:

Se você pretende ser Dono de alguém você terá de decidir se quer compartilhar a suas posses ou se espera exclusividade. Se você quer compartilhar você não é Dono é condômino e só precisa se responsabilizar pela parcela que usar. Por outro lado se você espera exclusividade é sua responsabilidade garantir que as necessidades sexuais e fetichistas das suas posses estejam suficientemente satisfeitas.

Aspectos como frequência sexual, frequência de práticas e empréstimos precisam ser negociados desde o inicio da relação e renegociados sempre que necessário.

3. Nível do lazer:

O lazer é o que proporciona o descanso frente ao cansaço emocional. Uma submissa sem lazer vai murchar com o tempo. Uma submissa que tem a sua necessidade de lazer respeitada vai permanecer viçosa. Se você é realmente Dono precisa pensar como prefere o seu jardim.

4. Nível afetivo:

As suas necessidades afetivas bem como as das suas posses são parte integrante da vida e não podem ser excluídas de uma D/s da vida real. Talvez você como Dono não se importe que as suas submissa tenham relações baunilhas o que, inegavelmente diminuiria tanto o seu poder como a sua responsabilidade, entretanto caso você opte por exigir exclusividade afetiva das suas submissas você se torna automaticamente responsável pelas necessidades afetivas de cada uma delas.

É importante também compreender que as necessidades afetivas não se limitam ao carinho e acolhimento necessários a todos os seres humanos mas também as expectativas, aos sonhos e aos projetos de futuro nos quais você explícita ou tacitamente possa estar envolvido. Nesse sentido é obrigação de todos, Dominador e submissas, serem tão transparentes e honestos sobre as expectativas de cada um dentro da relação de forma a evitar, tanto quanto possível, suposições tácitas tão fáceis de criar, seja por inaptidão ou por má-fé.

5 Nível social:

As suas submissas são seres humanos e, dessa forma, têm necessidades sociais frente as suas famílias e comunidades. Não seja ingênuo a ponto de não pensar que, se uma submissa começa a ter obrigações de servi-lo regularmente, ela não tenha explicações a dar para a sua família, amigos e comunidade.

Um exemplo dessa situação é que é possível que você tenha de se apresentar como o namorado da sua submissa para os pais dela e se comportar civilizadamente na presença deles, quero crer que isso não esteja acima da sua capacidade social! Talvez até mesmo seja necessário comparecer a eventos sociais relevantes para a comunidade de cada submissa que você possua. Isso tem sim que ser considerado antes de assumir a responsabilidade por mais uma submissa. É importante também deixar claro que você não precisa se tornar um agregado da família de qualquer uma delas, nem frequentar todos os almoços de domingo da bisavó de cada submissa. O equilíbrio razoável no atendimento das necessidades sociais de cada submissa precisa ser negociado com cuidado e é importante que cada submissa entenda que as necessidades sociais de cada uma são diferentes e não devem ser usadas como medida de status dentro da relação.

Quero lembrá-lo que as suas submissas não são animais abandonados na rua à própria sorte, antes indivíduos com necessidades sociais e é sua responsabilidade suprir essas necessidades caso você espere dedicação exclusiva das suas submissas.

6. Nível do acolhimento

A quem o Dominador espera que as suas posses recorram quando estiverem inseguras, com medos, com duvidas ou mesmo somente tristes. Tenha certeza que a pessoa que acolhe uma submissa tem grande quantidade de poder sobre ela e sobre as suas decisões. Abrir mão de acolher a sua submissa é necessariamente abrir mão de uma parte importante do seu poder.

7. Nível conceitual:

É sua responsabilidade como Dominador cuidar que os conceitos relevantes para você estejam absolutamente claros para as suas submissas de forma a evitar tanto quanto possível maus entendidos.

Exemplos de clareza conceituais poderiam incluir questões como o os usos legítimos da safeword, o comportamento público de Dominador e submissas, as obrigações de parte a parte em caso de término, entre infinitos outros. É importante que o Dominador garanta um espaço seguro para as suas submissas questionarem sobre quaisquer conceitos que as inquiete sem que seja necessário “sair do papel”, pois uma vez que se esteja em uma D/s na vida real não existe o “sair do papel”. Uma vez assumida uma responsabilidade, meu colega Dominador, não exite um tempo de descanso

8. Nível administrativo:

O nível administrativo tem implicações no espaço e no tempo da relação.

Do ponto de vista do espaço é importante que o Dominador garanta a existência de espaço para todas as submissas, sem a obrigação que tal espaço seja igual para todas, uma vez que nenhuma relação é igual a outra. Ainda no sentido da administração dos espaços vale mencionar que manter as submissas isoladas é não só uma demonstração evidente de incompetência gerencial como uma possível evidência de má-fé na administração das relações.

Do ponto de vista temporal o nível administrativo envolve a responsabilidade do Dominador em pensar o futuro das suas submissas, orientando-as sobre carreira, finanças pessoais e outros aspectos que se fizerem necessários dependendo, é claro, da maturidade de cada submissa na gestão do próprio futuro.

Exemplos das responsabilidades no nível administrativos seriam conhecer e planejar o uso do tempo do Dominador coletivamente e caso haja, individualmente, planejar viagens sejam individuais ou coletivas e frequência a eventos tanto baunilhas como fetichistas.

Exemplos das responsabilidades no nível temporal poderiam incluir ajudar as submissas a pensar em qual carreira seguir que estejam de acordo com os talentos e ambições de cada uma, e no planejamento de investimentos que possam levá-las a uma situação financeira mais confortável no futuro.

9. Nível do reconhecimento

A prática da humilhação erótica pode ser uma fantasia de muitas submissas, mas é essencial não confundir a humilhação erótica com a humilhação real.

A humilhação real consiste em roubar da sua submissa o seu valor próprio, aquilo que faz ela com que ela sinta a si mesma como digna e valiosa. Esteja certo que se você não cuidar disso alguém certamente o fará.

Exemplos de reconhecimento incluem, reconhecer e valorizar o esforço que, creia-me não foi pouco, ela fez para se apresentar bela e desejável aos seus olhos, reconhecer o esforço em servir, reconhecer o valor que ela adiciona a sua vida. E, caso você não creia que nada disso tem valor, sinto dizer que você estará no lugar errado.

10. Nível material:

O Dominador tem de ser materialmente responsável pelas ordens que dá. Isso implica, sim, ser financeiramente responsável pelos custos que as suas ordens e exigências envolvem.

Por exemplo, se você exige das suas submissas que estejam com as unhas feitas todas as semanas e elas não têm esse habito é razoável que o Dono arque com os custos das unhas.

Outro exemplo seria que se você dá uma ordem para a uma de suas posses estar em certo local em certo dia e horário, é sua responsabilidade estar certo que essa ordem não conflita com os compromissos de vida da submissa, que ela tenha os recursos financeiros para o transporte seguro até o local e inclusive, se for o caso, verba para lanches se o percurso envolver muitas horas.

Por outro lado é obrigação das submissas informar as impossibilidades, inconvenientes e dificuldades que o Dominador por ventura não tenha previsto.

Isso implica que o Dominador é o único responsável financeiro e material de toda a relação? Não necessariamente! Se as submissas puderem colaborar, é claro que todos poderão viver mais experiências do que se for apenas um a arcar com todos os custos. Afinal é de se esperar que todos desejem viver tais experiências e se você submissa não está vendo valor intrínseco nas experiências que você compartilha com o seu Dominador você está fazendo isso errado! Por outro lado, você Dominador precisa entender que a responsabilidade pelos custos das suas ordens é SUA e que cada submissa, se e quando puder, estará apenas colaborando com a SUA responsabilidade.

Esse é um dos temas que mais gera desconforto nas relações, então se você não gosta de se responsabilizar eu sugiro que escolha outra posição para viver o BDSM, existem opções bem mais fáceis!

Pode ser que você, Dominador, não tenha a disposição ou o tempo necessário para lidar com as necessidades de suas submissas. Pode ser que você não goste de lidar com os problemas exclusivos do gênero oposto. Pode ser que simplesmente você não tenha paciência para “ficar resolvendo problemas”. Para você existem formas mais fáceis de viver os seus fetiches no BDSM do que buscar uma D/s da vida real.

Então por favor abstenha-se de chamar a si mesmo de Dono e de chamar a sua parceira de posse. Se você fosse o Dono de uma Ferrari você não deixaria de cuidar, de colocar combustível, de pagar o seguro. Eu estou certo que muitos Tops gostariam de encontrar uma Ferrari aberta, dar uma voltinha, sem arcar com nenhum custo, mas isso não vai acontecer. Então, por favor paremos de chamar relações sem responsabilidade de D/s ou pessoas irresponsáveis de Donos com o único intuito de receber reconhecimento imerecido. Não permitamos que algo que tem tanto valor para muitos de nós seja machado pela incompetência ou pela má-fé de alguns.

Notas de Exclusão:

1a Quando eu me refiro a Dominadores e submissas eu falo a partir da minha própria experiência. Sintam-se livres para declinar o gênero de acordo com a experiência de cada um.

2a Quando eu me refiro a Dominadores ou Tops de D/s tudo que eu digo não se aplica necessariamente a Tops de Bondage, de Disciplina, de SM ou de qualquer outra relação fetichista que não a D/s.

3a Quando eu me refiro a D/s da vida real eu me refiro exclusivamente às relações entre Dominadores(as) e submissas(os) em uma relação de comprometimento mútuo, com papeis de poder definidos e estáticos, em um regime de PPE ou TPE e com validade 24/7.

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